Não posso começar sem antes fazer aqui uma analogia ao significado de Black Swan.
Em Inglês Swan significa Cisne, já uma outra palavra Swamp, significa pântano.
O que pude perceber neste filme foi a evidência de um cisne negro que emerge das profundezas de algum lugar, sujo, escuro, profundo, como uma fera que estava a muitos anos adormecida. O que me lembra este lugar é o pântano, daqueles encontrados nos filmes de terror que passam-se na Lousiana, ou ainda no Mississipi (o estado e não o rio).
Se em uma primeira temos a pefeição da técnica, do controle, da beleza, d pureza, do amor, da meiguice, sendo representados pelo Cisne Branco, por outro lado, temos a paixão, o tesão, a energia, a força, a raiva, o medo, o ódio, em outras palavras e para resumir temos aqui todos os representantes do desejo. É claro que também há o desejo na perfeição, no amor, no controle, na beleza, mas nesta forma "cisne branco" parece que o desejo está alienado de Nina - a protagonista do filme. Já na outra parte, ela é toda pulsão, toda Id, toda "animal".
Entre todo o filme, algumas características são notadas e podem dar luz à teoria psicanalítica. Minha proposta é disorrer um pouco sobre algumas delas, que, entre tantas, eu decidi que poderia escrever. Não que são melhores, ou mais evidentes, mas é que especialmente para essas 3 eu me sinto na capacidade para falar um pouco mais sobre ela.
1 - Acho que o complexo de édipo, definido principalmente por Lacan - a entrada de um terceiro na relação - pode ser visto claramente quando surge o treinador, que, com o beijo e a sedução retira a criança do laço simbiótico com a mãe, começa um despertar para a vida adolescente, para a sexualidade própria. Começa a despertar-se quando ela começa a perder-se.
Como um terceiro (outro) que diz que a moça é além daquilo tudo que estava sendo nomeada, e que ela mesma nomeava em si, ele diz: "Loose yourself" (perca-se de si mesma), infelizmente foi traduzido erroneamente nas oportunidades que aparecera a fala, a legenda mostrava outra coisa, abrandando o sentido e a seriedade da autoridade do Nome-do-Pai.
Ela perde-se de si mesma, sai do controle, passa a ser Cisne Negro não pelo amor (encanto original), mas pelo desejo sexual, por puro tesão e sedução. Na verdade ela simplesmente começa a ser as duas faces da mesma moeda, integra em sua vida a peça encenada, encena com a vida de tal forma que termina da única forma que a peça pode terminar, tanto a peça quanto sua vida seguem o mesmo roteiro.
2 - Fica imperceptível, em alguns momentos, se o que ela está vivendo é real ou é fantasia. Na verdade imperceptível para nós, expectadores, mas para ela, sempre é real, pois - como em posts anteriores já expliquei um pouco sobre isso - o que passasse-se em nossa imaginação, é o que é real para nós.
Desde a angústia de ver um outro em si mesma coçando onde o controle não permitia coçar (o gozo, o prazer, o alívio de uma coceira), até mesmo a parte que ela arranca a pele do dedo e depois percebe que não arrancou. Sabem quando batemos a canela em um degrau e parece que saiu a perna inteira de dor? A sensação é que saiu de verdade toda a perna, assim como para ela (toda sensação) ela realmente arrancou a pele do dedo todo.
3 - Para finalizar (este filme merece uma tese, e não serei eu que me arriscarei nessa jornada) fica uma idéia, uma sensação entre tantas outras que podemos ter como certa.
Uma vez que atinge-se a perfeição - seja por quais formas ela for atingida - o gozo não possibilita outra coisa que não seja a morte. Lembrou-me dos ditos bíblicos do antigo testamento que ninguém podia olhar para a face do Senhor, pois isso o mataria instantaneamente.
Afinal, quando buscamos realizar nossos desejos é exatamente a insatisfação que nos remete às novas empreitadas em nossas vidas. Uma vez atingido exatamente aquilo que buscamos, a perfeição completa e nos damos conta disso, só nos resta um caminho, a morte, o fim, porque até mesmo na perfeição do desejo realizado somos insatisfeitos, somos incompletos.
4 comentários:
Como seres finitos, perfeição nos parece algo impossível e chato.
Interessante a sua leitura, diferente da que fiz. Mas não menos verdadeira. Este filme é um prato cheio para estudos, não?
Uau! Só no diagnóstico diferencial dá pra escrever um livro. Pela feminilidade, outro. Pelos detalhezinhos, mais trocentos.
E, bem...há algo mais real do que uma fantasia?
Incompletude. A falta. O desejo. Belíssimo filme! Mto boas tuas reflexões, Marco! Beijos!
Grande filme!
http://vemcaluisa.blogspot.com
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