Dores que tendem a manifestar-se continuamente, como as psicossomáticas, são muito difícil de serem extintas, mas uma vez que o sintoma da dor cede, o lugar fica vazio, e muitas vezes outo sintoma, outro transtorno acaba aparecendo.
As pessoas com dores crônicas experimentam um certo desamparo diante da dor. Depois de buscarem em diversos médicos, e tentarem todos os medicamentos possíveis parece que nada funciona, que nada dá certo. A dor então de certa forma deixa de ser um problema aos poucos, passa a fazer parte da pessoa, de sua personalidade, de sua vida. A pessoa se lembra muitas vezes de sua vida antes e depois da dor, como se fosse um marco, uma marca que ficou para mostrar que antes a vida era muito melhor.
Hoje em dia utiliza-se com muita aceitação alguns anti-depressivos para tratar estas dores. São chamadas de dores crônicas que não tem necessariamente uma fonte etiológica definida. E quando tem, parece que de alguma forma os medicamentos comuns são inúteis.
Viver com estas dores é verdadeiramente um desafio. Mas é uma forma de viver, de desafiar-se a cada dia, de dar um gostinho de dificuldade à vida (mesmo que inconscientemente) diante da frequente propaganda de que hoje em dia TUDO é possível.
O "tudo posso" é uma mentira, e para mostrar que isso não funciona, parte de nós (normalmente nosso corpo) acaba dando lugar a uma dor estranha, que nos impossibilita justamente de poder tudo. Nos mostrando nossa realidade, nossos limites, nossas bordas.
A psicossomática é outra coisa no meu ponto de vista, é uma dor, uma doença, que teve sua origem mais ou menos diante de algum, ou mais provávelmente alguns traumas, nos primórdios de nossa vida, por exemplo no nascimento.
A psicossomática é um atuar, uma ação determinada em algum órgão específico que no momento do nascimento respresentou, significou uma quantidade de sofrimento em um momento em que segundo Freud o ego ainda era um ego corporal.
Essas famosas dores crônicas no entanto em sua maioria, são diferentes. Costumam aparecer mais frequentemente entre pessoas que já tem uma vida estabilizada, ou estão perto disso. Elas deixam apenas uma marca, você tem que se cuidar, porque dói.
As dores crônicas são em outras palavras uma parte de nós que responde a um estímulo específico que nos engana, aos estímulos das infinits possibilidades que o capitalismo nos passa a todo instante.
Fui ao shopping em Londrina com minha namorada e eis que ela disse, "Amor olha como a gente é pobre!!!" Acho que nunca ri tanto de minha miséria. Fazer um Chiste diante da nossa impossibilidade valeu muito mais que a dor de cabeça de ter que pagar um produto que eu não tenho condições de comprar. Aqui aparece a dor crônica.
Diante do que eu não poderia (ao menos não me autorizo) ter ou ser, a dor crônica vem como uma forma de punição, de castigo por algo que eu não deveria experimentar.
Afinal, o que seriam dos ricos se não fossem nós, os pobres???
Viver com menos ideais de busca de prazer e felicidade, viver por alguns objetivos mais concretos, mais simples nos torna mais tranquailos, mais felizes e ainda por cima ajuda a diminuir o abismo do que eu acho que posso ou deveria poder e tudo aquilo que eu tenho, ou que ainda almejo e me dói para que eu não consiga ter ou não consiga aproveitar.
Um grande abraço pessoal e uma ótima semana.
2 comentários:
Marquinhos
Muito interessante sua abordagem sobre as dores psicossomáticas.
Graças à Deus não as tenho, mas conheço várias pessoas que convivem com esta dor, ou dores, e creio que não saberiam viver sem elas, porque senão suas vidas ficariam muito vazias, muito sem chão,sem sentido, pois a dor, a preocupação pela dor,torna-se uma razão para lutar, para sobreviver, toma muitos espaços que as pessoas nem sequer sabem que existem em sua mente e corpo. Não somos psicólogos, mas nos parece que são um tipo de dependência bem-vinda a eles, apesar de todos os sintomas, remédios, noites sem dormir!Os vazios de nossa alma, os calabouços e porões de nosso mundo emocional , pregam muitas peças , nos menos atentos, mas também, talvez em qualquer um de nós, pois ainda existem muitas luzes a serem acesas neste palco de dor, onde os que sofrem, são os principais protagonistas Acredito que a fé viva e ativa, como a dos cristãos , ou como a de qualquer outra religião, ou não, que nos leva à busca do auto-
conhecimento , a confiança em nós mesmos,a capacidade de lidar e enfrentar as dificuldades e traumas, é uma das possibilidades de prevenção e cura. Temos que ter uma força interior inquieta e constante que nos mova, ou algo, que sempre nos provoque questionamentos, nos desafie, nos suscite movimentos que nos libertam .Vocês psicólogos, que venham ao auxílio destes doloridos e , muitas vezes, solitários seres humanos! Mariza
Quase toda dor é de ordem psicossomática, de uma forma ou de outra.
http://vemcaluisa.blogspot.com/
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