“QUANDO CHEGAMOS A DETERMINADA IDADE AVANÇADA, COSTUMAMOS NOS SENTIR SEM UTILIDADE PARA A SOCIEDADE. A GRANDE VERDADE É QUE O PRAZER DE VIVER SURGE QUANDO NOS TORNAMOS INÚTEIS.” (Rubem Alves)
Para fechar o fim de semana e começar a nova e última semana de Janeiro, escolhi comentar o texto de Rubem Alves escrito na Psique que chegou este sábado em minha casa.
A cultura tem sido implacável com o ócio, pelo menos aqui no Brasil e nos Estados Unidos onde pude viver por uns tempos.
Lembro-me de uma obra chamada “O Peregrino Russo” que conta a vivência de um vagabundo. Não um vagabundo moderno, mas um vagabundo real, um homem que vaga pela vida, pelos lugares, sem um lugar para repousar.
As coisas mudaram com o tempo afinal, antigamente, o ócio era apenas para os ilustres, reis, chefes, filósofos. Lembro-me de uma aula na qual um professor disse o que todo aluno adolescente, preguiçoso ao acordar de manhã para ir à escola, gostaria de ouvir; ele falou de um tal de ócio criativo, o ofício dos gênios, poetas, escritores.
Hoje meus amigos, o fazer está de certa forma tão impregnado em nossa cultura que até mesmo quando não queremos fazer absolutamente nada falamos com a boca cheia “Domingo é dia de fazer nada”.
Uma tentativa de “verborizar” o nada, como se isso fosse de alguma possível. O nada meus amigos é o nada e pronto acabou. Não se define, não existe enquanto substância, não existe enquanto ser, sem origem e sem fim. Fazer nada é impossível, apenas podemos tentar aplacar aquele superego que insiste em nos criticar ao repousarmos na inutilidade de um domingo de sol.
Apelando para o pensamento de agir nadando pensei em conjuga-lo:
Eu nado, tu nadas, ele nada – Péra aí, isso é natação, não tem nada a ver com ócio.
Conheço algumas pessoas que em pleno domingo chamam os amigos a um churrasco, compram tudo, ficam na churrasqueira, limpam a sujeira, e depois quando todos estão descansando porque afinal é dia de fazer nada, eles sempre reclamam que fulano não ajudou, ciclano não abre nem a latinha de cerveja sozinho, que os outros se aproveitam enquanto ele ficava lá trabalhando que nem um escravo.
Sim, escravo de um pensamento que te impossibilita de curtir um domingão sem fazer nada, a curtir com os amigos, a jogar um baralho ou simplesmente como disse-me meu amigo Carlos – Ficar o dia inteiro na rede olhando e apreciando a vista.
É na impossibilidade de parar, de ser inútil, de poder ter seus devaneios que a vida acaba se esvaindo, segundo após segundo. O sentido de viver porque se está vivo, perde sua função, acabamos vivendo em função de coisas, de ações e não da própria vida.
Realmente concordo com TUDO o que li no artigo de meu amigo (ao menos de minha parte) Rubem Alves (um grande e saudoso abraço a você). É na inutilidade que nos apresentamos frente à vida, frente aos outros e frente a nós a mesmos.
Ao contrário do que diz a cultura dos negócios, capitalista e também narcísica, não me defino pelo que sou ou pelo que represento, me defino pelo que me falta, e nisso posso arriscar a dizer que me torno indefinível. De acordo com Lacan o que falta é impossível de ter, pois é inexistente, então a partir de hoje sou inexistente neste mundo que tanto me faz querer existir de alguma forma.
O humano não tem forma, é como um grito, ou um suspiro, apenas acontece e depois desacontece. É plástico, não como plástico que dura muito tempo, mas como sua propriedade de ter qualquer forma desde que sejam dadas as possibilidades para isso.
Sou humano, inexistente, sem forma e principalmente da vida vivedor !
Para fechar este Post um pouco mais do mesmo Rubem Alves retirado do mesmo texto:
“AS ALMAS DOS VELHOS E DAS CRIANÇAS BRINCAM NO MESMO TEMPO. AS CRIANÇAS SABEM AQUILO QUE OS VELHOS ESQUECERAM E TÊM DE APRENDER DE NOVO: QUE A VIDA É BRINQUEDO QUE PARA NADA MAIS SERVE, AO NÃO SER PARA A ALEGRIA”
Um Brinde aos amigos, amigas, parentes, conhecidos e a todos que estão visitando e comentando no Blog.
1 comentários:
Adorei a reflexão.
O "nada" virou pecado.
Há que se produzir, produzir, produzir...
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