Fui viajar. Visitei minha antiga cidade maravilhosa, meu antigo refúgio, meu antigo Éden. Lá não sou amigo do rei, na verdade eu me achava o próprio rei. Como toda criança na praia com seus familiares e amigos queridos. Meus avós eram donos de uma exelente sorveteria, uma sorveteria na praia, era o palácio que qualquer criança desejava ter.
Embora tivessem dezenas de sabores, meu sabor era sempre o mesmo, o bom e velho chocolate. Até que conheci o de uva e aí foi o de uva. O chocolate era apenas na falta do de uva, um dia enjoei do delicioso sorvete de chocolate e resolvi me arriscar ainda mais.
Esperimentei o sorvete de crocante, meio estranho com coisinhas duras no meio. Coloquei uma corbetura de caramelo e pronto, estava ali como rei que era, brincando de alquimista e ainda por cima encontrei a fórmula de Midas. O que era estranho ficou delicioso. Claro que havendo o sorvete de uva esse era o manjar dos deuses, melhor que qualquer alquimía huamana.
A história de meus gostos e desejos mudou, assim como a história daquela cidade. Que pena!
Havia lá na cidade um costão mal assombrado, voltando da guerra contra o paraguay, em uma tempestade um navio naufragou naquele costão que até então recebia o nome de costão dos naufragos. Recebia, passado, assim como meu gosto pelo sorvete de chocolate.
O passado passou, depois de dois anos sem visitar a cidade, muita coisa aconteceu. A placa. que eu jurava que havia por ali, que contava a história e homenageava os naufragos deu lugar a outra que sequer dizia sobre o fato. Foi-se embora a história que atormentava as criancinhas e as impedia de pular no meio das pedras. Foi-se embora o símbolo do nauufrágio, foi-se embora mais uma parte de minha história.
O encanto do lugar parece que deu lugar a um certo desencanto, o chocolate perdeu o gosto do chocolate. A praia não é a mesma, tudo mudou. As praças, as pedras, a areia, até mesmo os prédios e hoteis. As pessoas também mudaram, passeam sem dar bom dia, vão dormir sem dar boa noite.
O meu paraiso virou somente o sorvete de crocante, de alguma forma a calda que antes eu podia colocar ali na sem gracisse do sorvete e da praia acabou.
Aos poucos a história muda, não se fala mais dos naufragos, não se fala mais que as pedras são assombradas, não se fala mais que a noite o homem do chapéu irá aparecer. Silêncio diante da perda de tudo o que muito significou para mim e que hoje fica na minha história. Pena que só ficou na minha.
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