A dor que não passa por mais que se esforcem nossos familiares, amigos, amores. Parece que há certa dor que é impossível de ser aplacada. Seja esta dor física como em alguns casos de câncer, ou em algumas síndromes; seja a dor psíquica como na angústia, no pânico, ou ainda no extremo do luto.
Quero falar de minha experiência das dores da alma, as dores do corpo deixo aos visitantes caso sintam o desejo de falar.
A dor da alma é sempre ilimitada, de certa forma "impassável". Lembrem-se que escrevi um pouco sobre o tempo, e que só existe o agora. Reconhecemos o passado por um acúmulo de memórias. Pessoas que acordam de um coma profundo tem uma estranha noção de que o tempo passou, mas não podem imaginar o quanto foi este tempo. Não há o registro psíquico do tempo como o conhecemos, apenas temos um acúmulo de fatos, momentos, por fim, são apenas sensações que nos afetaram. Futuro também não existe visto que ainda irá existir. Resumidamente, só existe o presente, e neste presente é que trabalha a alma, a mente.
Pensar então em uma angústia, em uma dor psíquica, em um luto é viver mais do que nunca no agora, no hoje, segundo por segundo. E não vivemos estes segundo com vida. Parece, temos a impressão que morremos segundo por segundo. Parece que nas profundezas do lugar "nenhum" que nos encontramos estamos nos perdendo, estamos desaparecendo enquanto consciência.
A maior dor é ainda maior quando percebemos a inutilidade das tentativas dos outros em nos fazer repousar. Parece que tudo aquilo que um dia nos acalmou de certa forma não tem o menor valor agora. As orações não nos acalmam, as vezes até nos irritam, as palavras de consolo e carinho nos deixam mais ainda impacientes, de certa forma reconhecemos o amor, o carinho, o cuidado que as pessoas estão tendo, mas por dentro é como se fosse tudo inútil.
Uma palavra aqui resume o quadro da dor psíquica que não passa, que é infinita e que ninguém consegue aplacar: DESAMPARO.
De alguma forma nossa mente, nossa alma, nossa consciência está sendo destruída, os alimentos perdem os sabores de forma a causar náusea. Qualquer barulho é insurdecedor, mais o pior deles é ter que ouvir a cada segundo o som do próprio coração que por mais que sentimos batendo ultra rápido e forte, um exame médico irá desmentir com a frieza do toque do estetoscópio. Seu coração não está mais rápido, não há nada com você, sua pressão está ótima como nunca esteve antes.
Afinal, o que há de errado comigo?
Calma meu querido, minha querida, isso vai passar.
Seu corpo como que pressentindo o que estava por vir se preparou para o inverno, acumulou nutrientes suficientes para como que hibernar. A inapetência, as náuseas, as dores de barriga, mesmo com tudo isso você vai sobreviver.
Quando o problema psíquico não é devido a um componente biológico os exames clínicos costumam não achar qualquer problema. É hora de visitar um bom psiquiatra e quem sabe um psicólogo.
Um psiquiatra que conhece as obscuridades da alma irá recomendar-lhe um bom psicólogo.
Já ouvi de alguns clientes o seguinte:
- O Dr. me encaminhou pra terapia porque disse que os remédios iam ajudar mas somente a terapia poderia realmente me curar.
Bem vindo ao começo de uma virada na sua vida.
O teu mal-estar provavelmente não irá desaparecer, mas sabe, aos poucos você se dá conta de que não morreu, e que de alguma forma isso tudo não irá te matar, de alguma forma é possível sobreviver a situação, a dor implacável, à sensação de aniquilamento que está tendo.
Com ajuda da terapia e com o tempo, as vezes até mesmo com os medicamentos receitados, podemos aos poucos desconstruindo a dor, vasculhando pedaço por pedaço e descobrimos que o que antes nos matava nada mais era que um aviso, um alerta, para que pudéssemos mudar e assim sobreviver.
A angústia, a dor, o medo, não são em si patologias da alma, pelo contrário, são avisos, salvadores dela. Quando damos a devida atenção e importância a estas sensações um novo mundo se abre ante nossos olhos e enfim de certa forma aos poucos começamos a viver.
1 comentários:
Lindo texto doído.
Lembra-me de Nasio, que fala da dor de amor como a dor de um membro fantasma. Já não está, mas dói.
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