Rubem Alves - Antes que se rompa o fio:

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011 3 comentários
E na correria do dia a dia, deixo a vocês um pouquinho de poesia em forma de prosa, espero que gostem tanto quanto eu. Abraços 
  ANTES QUE SE ROMPA O FIO - RUBEM ALVES - PUBLICADO NA REVISTA PSIQUE Nº 62.
 
    "O telefone chamou e deu a notícia: você ficará diferente de todos nós. Nós, que continuamos automáticos e seguros a andar pela planície, repetindo as mesmas rotinas do dia: o café da manhã, o jornal, o carro precisa ser lavado, o que vamos ter para o almoço?, a correspondência, a lamentação sobre a crise econômica, que faremos no próximo fim de semana? Mas de repente tudo isso cessou para você, pois você está pendurado sobre o abismo, preso por um tênue fio, contemplando a grande escuridão. E a alma se encheu de uma imensa tristeza ante a possibilidade de um adeus. Mas eu não quero lhe dizer adeus, pois a sua presença faz parte da nossa alegria,. E, no entanto, é isto que nós somos, sem que tenhamos coragem para dizê-lo: um adeus. É por isso que precisamos dos poetas. Pois eles são aqueles que tecem suas palavras em volta do frágil fio que nos amarra sobre o abismo. Eles sabem que em nossos corpos mora um adeus. De repente, sem nenhum anúncio."

     "Muitos, muitos anos atrás, quando minha filha Raquel não tinha mais que três anos - eu ainda estava dormindo -, ela me acordou com uma pergunta que eu nunca ouvira, uma pergunta de tal densidade poético-metafísica que tive a impressão de ter ouvido uma voz vinda de séculos de sabedoria e não de uma menininha que começava a viver - é certo que coisa semelhante eu nunca ouviria da boca de um adulto : "Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?".

     "Ante o meu espanto sem palavras, ela acrescentou: "Mas não chore não. Eu vou te abraçar..." Ela entendera que a dor da morte não é a dor do medo. É a dor da suadade."

     Fragmento do texto de Rubem Alves na edição nº62 da revista psiquê que insiste em chegar atarsada, sempre atrasada aqui em casa.
 

3 comentários:

  • Naty Santos disse...

    A dor da saudade é inexplicável,sei o que é isso.Sinto todos os dias de alguém que se foi.O que doí mais é ficar na incerteza se algum dia nos encontraremos,nada me garante isso.Beijos.

  • O Divã Dellas disse...

    Me senti em casa aqui no seu espaço.
    Fui aluna de Psicanálise e voltar às aulas é uma das minhas metas.
    Simplesmente dou apaixonada por tudo que envolve a essência do homem.
    Grande abraço e obrigada pela visita.
    Cinthya
    http://odivaadellas.blogspot.com

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