Um lugar pra chamar de meu:

domingo, 17 de abril de 2011 6 comentários
Fazia tempo que eu não ficava tão sozinho em um sábado a noite.

Ao invés de namorar, de sair, de jantar com pai ou com mãe, de um filme, de um cinema, de pipoca, de alguma coisa fiquei só. Estranhamente, este momento de estar só foi devido a um desentendimento. Simplesmente para não continuar com uma discussão a qual já dura anos e que eu não tenho perspectivas de vencer ou perder, porque não acabará nunca, resolvi dar um tempo pra mim. 

Fui caminhar pelas ruas da cidade, sem chorar, sem sorrir, sem hora marcada para voltar, sem coisa nenhuma para fazer depois, sem vontade de nada, apenas de continuar caminhando. Meu objetivo era de simplesmente continuar caminhando e de alguma forma, manter-me longe de qualquer diálogo, de qualquer pessoa.

Entrei em uma Paroquia aqui de Londrina e para minha surpresa já er missa de Domingo de ramos. Quantas lembranças, quantas saudades. Revi o Pe Joel, um amigo meu dos tempos de grupo de oração, ele ainda perguntou se eu havia ressucitado. Disse a ele que ressureição é só domingo que vem...

Não fiquei para a missa, apenas passei para descansar um pouco. Ainda estava longe de minha casa cerca de 1km e meio. E ainda por cima tinha uma subida enorme para eu enfrentar. 

No banco da Igreja pude pensar com calma aquilo que tanto eu pensei dolorasamente na terapia e por uns tempos na vida. Cheguei a conclusão de que eu não tenho mais um lugar. Não tenho mais um canto, um pedaço de espaço que é meu. Não participo mais de grupo de oração, me sentia deslocado lá dentro. Não tenho mais casa que eu possa chamar de lar. Tenho a casa de minha mãe, de meu pai, de meus avós, de minha namorada, mas meu não tenho nada.

É meus amigos, poderia ser triste, mas aos poucos a gente se acostuma com a idéia de ser peregrino, de ser um andarilho na vida.

Durante muito tempo eu buscava um lugar para eu poder descansar, fazer minhas traquinagens, cozinhar minhas receitas tão batidas, mas tão saborosas. Ficar sozinho, ficar acompanhado, chamar quem eu quisesse para entrar e ficar um pouco mais. Um lugar para ser feliz.

Lembrei de meus tempos de infancia onde ia para praia, casa de meus avós maternos. Eu podia jurar que lá era esse lugar. Onde as pessoas me amavam, cuidavam de mim na medida certa. Onde eu aprontava e a repreensão vinha em forma de conhecimento, e de nova chance, e de carinho, e não de tapas, de broncas, de dores, de medos. Até o tapa que levei na boca de minha avó (havia falado que ela era uma ...., deixa pra lá) veio em forma de uma picada de abelha, mesmo com a dor, era ela quem fazia o mel. Ensinou-me a respeita-la quando ao me bater chorou, por que não queria ter feito aquilo, mas eu precisava daquilo. Entendi a lição e nunca mais falei palavrão aos meus avós, seja maternos ou paternos...

Lembrei-me que lá era onde eu sempre queria estar. Mas esse lugar nunca existiu de fato.

Não era um lugar realmente físico, um espaço, era um ligar no coração das pessoas que moravam por lá. Esse é o lugar que eu tabto busquei.

Hoje, sem ter um espaço acho até bom, porque aprendi que não importa aonde eu vá trago saudade e deixo saudade. Trago o carinho e deixo o amor. Sabe, é um jeito sofrido e muitas vezes doído de viver, ninguém quer partir, ninguém ficar no desamparo de viver uma juventude sem ter um canto para chorar, sem ter um canto para ficar só, sem um lugar para ter seus segredos.

Foi justamente descobrindo que meu lugar é onde eu estou, no coração das pessoas que amo e que me amam que a minha definição de lugar se alastrou para o mundo inteiro. Hoje, meu lugar é do tamanho de meu desejo de ir e vir, e também de ficar, de ficar um pouquinho aqui, um pouquinho ali, mas sempre de passagem, deixando muitas vezes um gostinho de que eu quero voltar.

É assim na casa de meu pai, sempre que saio quero voltar. É assim na casa de minha avó materna, saio porque ainda sinto que nada vai me tirar do lugar de amado por eles. É assim na casa de meus avós paternos, é assim na casa de meus parentes, amigos, e até mesmo na casa de Deus.

Um lugar para chamar de meu eu não tenho, mas por outro lado, aos poucos fui percebendo que na verdade eu não preciso mesmo disso para ser feliz, preciso de corações, de amar, de ser amado, preciso um lugar para chamar de nosso e esse lugar não é nunca um só, são tantos quantos os corações que cativei em minha vida.

6 comentários:

  • Alice disse...

    Bom dia meu querido e "novo amigo",amadurecer implica em viver os mais diversos processos, e vc vive a sua história, embora precocemente e de um jeito único o "Deixaras pai e mãe" bíblico
    te leva a construir um caminho seu e a olhar a sua vida com responsabilidade...de fato o lugar mais importante a ser conquistado é no coração das pessoas e isso vc faz como ninguém...mas é necessário que vc tenha um lugar no seu próprio coração para que possa cuidar e dedicar tempo a vc...qdo a gente se tem nunca está só...o lugar do sentimento vc já está conquistando...o outro com certeza virá...mas vá sem pressa e com cuidado vc tem uma vida inteira p buscar seu desejo...tente antes identificá-los...os que vão te fazer bem e os que vão te fazer sofrer...

  • LuH disse...

    Sensível!

    Marco, que coisa louca essa de lugar hein

    Seu texto me fez passar um filme na cabeça. Me vejo muitas vezes assim, rolei tanto pelo mundo, tantas cidades, tantas casas que nem me lembro mais... , tantas famílias que me adotaram como parte delas... enfim...
    Até tenho um texto sobre isso que vou postar. Se vc quiser, pode dar uma lidinha
    :)

    Lá pelas tantas, me sentia não pertencente, nenhum lugar era o meu. Com a psicologia e a ampliação da consciência que a gente adquire (a duras penas) na terapia, fui cada vez mais refletindo, ponderando, relativizando as coisas ao meu redor... Me sentia deslocada muitas vezes de lugaresantes sentidos concretamente como meus e ás vezes vinha o vazio.
    Brincava com as pessoas que era cigana, e tinha até uma música apropriada pra quebrar um pouco a minha angústia: minha vida é andar por este país, pra ver se um dia descanso feliz...

    Um pouco mais madura percebi que não há fechamentos, que o movimento é a lei e que a realidade muda a todo instante. Me acalmei (mas não espero parar de me angustiar nunca)
    :)

    Zeca Beleiro na sua belíssima música diz: A velha e única casa, a casa onde eu sempre morei, e isso me proporciona insights em cadeia, porque na realidade, hoje, me sinto assim: meu lugar (Sou eu) é o agora onde estou e dentro disso, é também estar no coração das pessoas que amo
    Como vc diz lindamente: são vários...

    Quando vc fala: era um ligar no coração das pessoas que moravam lá, LIGAR foi a palavra mais acertada que já li; LIGAR-LUGAR

    Maravilhoso!!
    Belo texto

    Abç

  • Marco C. Leite disse...

    Olha o ato falho aí gente... hahahaha... eu queria escrever lugar... mas realmente Ligar... é o que dá muito mais sentido a coisa... Luh.. vc foi minha psicanalista hoje apontando uma falha que na verdade é exatamente o que sou eu... um sempre ligado aos outros...

    Abraços e muito obrigado pessoal, pelos comentarios, carinho e acima de tudo por partilhar vossos corações...

  • disse...

    É, Marcos, nosso corpo é nossa casa e o que realmente importa são os sentimentos que habitam em nós. O espaço físico tem pouca importância, pois podemos nos sentir bem dentro de uma igreja, na beira da praia, até num hospital, se estivermos indo levar carinho e conforto a alguém.
    Mto lindo o teu texto! Veio mesmo do coração! Beijos!

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