Re - Cor - Dar
Definição dada pelo dicionário na web.
Recordar - recordar (re-cor-dar) v.t. Fazer voltar à memória, lembrar. Ter semelhança com, fazer lembrar. Rever, repassar matéria lecionada. v. pr. Lembrar-se.
Podemos pensar, ao desmembrar o significante (palavra) em outros significantes (sílabas), em três palavras distintas, ou seja, de um significado, dentro da mesma palavra, só que agora desmembrada, podemos reitirar mais tres significados.
Re - Esta sílaba remete-nos a uma repetição, a um fazer de novo, a uma posição ativa sobre uma outra palavra, um outro fazer que irá aparecer na frente desta sílaba, por exemplo neste caso Re-cordar, podemos ter aqui mais um significado, que é de dar corda novamente. Se pensarmos nossa memória como uma linha, poderíamos utilizar esta metáfora exatamente para descrever que lembrar é justamente dar corda ao processo de lembrança, de leitura da linha da vida, lembrando que existe um RE aí na frente que nos leva à compreensão de que isso é um processo que se repete, que acontece repetidamente.
Cor - Podemos ver esta sílaba como vinda do Latim Core, que significa coração, o lugar onde, no imaginário popular, habitam os sentimentos. Mas também podemos ir simplemente para o português e pensar em Cor como uma cor que dá um colorido. Não creio que uma coisa seja diferente da outra. Na verdade tanto sentimentos quanto as cores são o que dão um gosto especial para a vida. Nos testes prisológicos por exemplo cada cor significa um sentimento ou um conjunto deles. Então se definimos como coração ou como cor, podemos pensar na mesma coisa, no colorido que os sentimentos dão a nossa vida.
Dar - Bom, aqui a coisa pode complicar, dar é um significante que merece certo cuidado. Aos distraídos de plantão podem passar para o próximo paragrafo, aos que querem uma jornada em minha mente podem continuar a leitura daqui. Dar - Tem vários significados, pode ser um presente, um beijo, um abraço, um sorrido, pode ser de coração ou não. Dar de coração como vimos no paragrafo anterior pode ser uma fgorma única de dar em que ao realizar esta ação um colorido se abre frente a quem recebe e a quem dá. Mas também existem as dádivas por obrigação, por regra, por dever. Não há um colorido, não há uma emoção, um sentimento maior em realizar a obrigação, pelo menos não normlemente, mas, podemos pensar que também há quem dê de coração mesmo fazendo a obrigação de ter que dar. Dar também pode ser compreendido como uma forma de desfazer-se, desfazer-se de algo, o que implica um trabalho de despossuir e possuir com um outro outra coisa que não o objeto dado. Por exemplo ao dar um presente a uma criança damos um presente e ganhamos algo em troca, um sorriso, um beijo, um muito obrigado, mas em suma, cria-se um vínculo que está além do presente, que está acima do colorido do que o presente pode dar, ganhamos enfim um pequeno amigo (Acho que descrevo uma criança porque elas são mais fáceis, embora sempre haja uma criança dentro dos adultos). Dar pode ser então compreendido como trocar, como uma via de mão dupla, embora o objeto (coisa, sorriso, amor, carinho) se perca para quem dá, têm-se o retorno de algo maior, algo mais sublime, ou as vezes apenas uns trocados a mais.
Mas...
Quero ficar com a definição que pode ser utilizada na clínica psicanlítica: Dar - na clínica dá-se a um outro algo que não se tem condições de, no momento, possuir, e que será devolvido na medida do possível. Na clínicam, o analisando (cliente, pessoa, paciente), entrega suas lembranças ao analista e aos poucos o analista as devolve na medida em que ele pode suportar o significado que aquilo tudo tem. Então dar para este texto terá simplesmente a finalidade de compreendermos algo que é dado, mas que não foi perdido, ao contrário, que está sendo partilhado.
Juntando tudo isso então temos o RECORDAR - Vamos de trás para frente, seguindo minha forma de ler jornais:
Dar - Partilhar com analista as memórias
Cor - Identificar nessas memórias as cores de cada uma
Re - Repetir o processo
Mas até quando?
Bom, até quando a corrente de memórias e cores fizerem um sentido. As memórias estão "na nossa mente" e de certa forma muitos confusas. Neurológicamente podemos podemos pensar como uma corrente de neurônios que se entrecruzam e se comunicam de forma meio desorganizada, meio embolada, uma palavra ativa este centro, esta bola de neurônios que se comunicam e aparece tudo de uma vez. O processo de análise vai como que desembaralhar tudo isso e mostrar qual o sentido, ou seja, é como desenrolar um novelo de lã e aos poucos o analisando vai percebendo onde é o começo, onde é o fim e o que foi se agregando indevidamente no meio disso tudo. Indevidamente mas que teve um motivo para estar ali.
Recordar pode ser pensado em: Entrar novamente dentro do palco da vida e reviver toda as cenas passadas, mas agora sem a influencia de outros e dando a cor que verdadeiramente aquela lembrança deve ter. É como atuar sozinho onde a pessoa do analista a única coisa que faz, quando muito, é posicionar o canhão de luz para iluminar desta vez o analisando, além de autor este passa a ser o ator principal da peça que é sua vida.
1 comentários:
Que bonita essa sua expressão:
"onde a pessoa do analista a única coisa que faz, quando muito, é posicionar o canhão de luz para iluminar desta vez o analisando"
Abç
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