De alguma forma as coisas tendem a se repetir sem que necessariamente, mesmo com o incomodo, com o mal-estar que esta repetição gera, as pessoas busquem de verdade uma mudança. É que não é na repetição que mora o mal-estar maior, mas na ansiedade de tentar uma coisa nova, de ser uma novidade na qual nem mesmo o que sofre com a repetição tem idéia daquilo em que pode se transformar.
Repete-se sempre o mesmo porque na verdade há uma posição muito bem delimitada, muito bem segura. O que sofre repetidamente com dores no plano do corpo se pergunta, mesmo sem saber, se existe outra forma de conseguir atenção. Ele sabe que não existe outras formas para obter a atenção que ele tanto encontra quando sofre, mas lá no fundo tem medo dos outros tipos de atenção possíveis que ele pode ganhar, e o melhor de tudo, sofre de dores da mente porque a possibilidade de ter uma atenção ainda melhor é real, embora não acredite que possa conseguir.
Aqueles que repetem um comportamento compulsivo tentam na verdade encontrar algo que há muito tempo foi perdido. Se pensarmos desta forma, busca-se na compulsão algo que não está mais lá, e que de alguma forma o prazer esta justamente em se haver com a falta, com o vazio, com o buraco deixado pelo abraço apertado que marcou o corpo, mas que nunca mais vai acontecer. Repete-se para lembrar-se que um dia foi bom e na esperança de que dia desses possa ser bom novamente. Mudar a posição que a pessoa ocupa nestes casos também tem a ver com a compreensão de que há outras coisas na vida que também podem ser boas. Assim como no primeiro caso existem outras atenções, aqui em especial podemos pensar que existem outras formas de existir além daquela busca compulsiva e repetitiva por um passado que como disse Lacan, não existe.
Freud escreveu muito sabiamente em um dos seus textos "Minhas neuróticas me mentem" quando relata que as coisas que foram observadas na clínicas não haviam ocorrido de fato, mas que eram apenas desejos infantis. Sonhos, fantasias de uma mente que de alguma forma precisou daquelas "mentiras" tão verdadeiras, tão reais para conseguir organizar-se.
Lacan vai mais a fundo, diz que o objeto do desejo ão existe. Lembrando que a gente cria, inventa, faz de conta e depois acredita nisso tudo, o pior é que sofre para deixar aquilo que talvez nunca existiu de fato, mas que sempre existiu imaginariamente. É exatamente neste ponto que nascem os sentimentos primitivos que a gente tenta encontrar na análise que que fazem toda a diferença ao passo que compreendemos nossa forma de repetir.
Repetir é uma forma de existir, de saber-se pessoa, de alguma forma é na repetição que podemos encontrar o sujeito do inconsciente. Lacan no vídeo que tem aqui no blog (Clique Aqui para o vídeo) diz que é precisamente no que se repete que podemos encontrar a essência do sujeito. A essência de ser carente, de ser doente, de ser compulsivo, de ser faltante, de ser, de existir. No fundo a essência, o amago da falta pode ser encontrado justamente na forma repetida de ser.
Continua...
1 comentários:
Sempre me fiz esta pergunta: e se todo esse sofrimento for minha invenção... e agora essa... Confusa, chocada, sem palavras...
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