Bom, para começar mais uma parte das discussões sobre algumas famosas psicopatologias (confira outras psicopatologias ao fim deste post) gostaria de introduzir um pequeno trecho do artigo escrito sobre TDAH pelo psicanalista Alfredo Jerusalinsky com o título de "Diagnóstico de Déficit de Atenção e Hiperatividade. O que pode dizer a Psicanálise?" :
"Então, em que pode contribuir o discurso psicanalítico para esclarecer sobre qual conduta clínica seguir? É certo que encontramos crianças hiperativas. A fenomenologia é verdadeira: existem crianças com problemas de memória, de atenção, de aprendizagem, de linguagem, com problemas psicomotores. No entanto, essa fenomenologia se mostra nas crianças "suspeitosamente" concordantes com o que os investigadores chamam uma "dificuldade social". Trata-se de crianças com dificuldades para representarem-se no campo dos outros. A possibilidade enunciativa que essas crianças possuem costuma estar em questão: têm dificuldades no campo da linguagem, embora possam não tê-las no campo da fala." (Jerusalinsky, A.)
O texto todo mostra uma série de confrontações com a realidade de uma hipótese constatada através do diagnóstico feito pelo "Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais" - DSM IV - onde uma série de pesquisas patrocinadas pelo laboratório da Novartis, não comprova nem a eficácia do medicamento (ritalina) e nem a existência da doença organicamente falando. O que se pode constatar apenas, é uma propaganda de amplo espectro para a utilização da medicação.
Mas espere um pouco, quer dizer que não existe essa tal de TDAH? Não, não quer dizer isso, mas com a leitura atenta deste texto, e das pesquisas mencionadas nele, bem como em outras encontradas no banco de dados da Scielo e Lilacs, o TDAH não é tão comum assim como tem sido falado.
Uma coisa é o Transtorno de Déficit de Atenção E Hiperatividade, outra coisa é o déficit de atenção e outra é a hiperatividade. O problema é que em nome de uma objetivação dos sintomas fenomenológicos (comportamentos manifestos) aparentes, tenta-se padronizar em um nome algo que vai um pouco além deste fenomeno.
O diagnóstico de TDAH sempre feito com base nas "reclamações" de pais e professores, parte do pressuposto de utilizar uma ferramenta química para agir no organico quando na verdade, de acordo com os exames clínicos (organicos) não há nada diferente no SNC, ou em outra parte do corpo da criança. O que pode haver, mas tem sido provado que é na minoria dos casos diagnosticados como TDAH é uma alteração no funcionamento, na forma como o SNC trabalha em especial nas regiões do cortex pré-frontal. É importante ficar atento para o dado de que esta alteração pode ser o indício de TDAH e a partir daí o uso do medicamento faria-se necessário. Caso esta alteração do funcionamento (e não da estrutura) fosse detectado, partir deste ponto para um diagnóstico mais preciso e para a objetivação dos sintomas seria um pouco mais "científico" do que convencionar-se de que apenas pelos dados relatados seja necessário a introdução da medicação.
Lembro-me de vários momentos em que pessoas simplemente faltam com a verdade (para não dizer que mentiam) na hora de falarem de seus sintomas para que nesta fala, fossem enquadrados em alguma patologia, e através desta patologia pudessem receber algum benefício, mesmo que seja apenas o benefício da atenção e do cuidado por um outro.
O que acontece é que nos casos relatados de TDAH, parece que há muito mais uma patologia do afeto do que do organico. Explico melhor:
O déficit de atecção muitas vezes é encontrado em crianças que tem uma superestimulação no ambiente e depois é pedido que elas fiquem quietas sem que aquele momento de ficarem paradas e sentadas tenham algum sentido afetivo para elas. Nas escolas primárias por exemplo, é muito comum o discurso das crianças mais estudiosas de que precisam estudar porque a tia fica feliz, porque a tia gosta mais dela quando vai bem nas provas, porque o comportamento de estudar tem sido reforçado pela professora através do vínculo afetivo estabelecido entre o aluno e o professor (esta perta as crianças acho que ainda não falam...rsrsrs... mas é mais ou menos isso que acontece).
Quando minha tia veio me perguntar sobre um suposto diagnóstico de um aluno que ela dava aula, eu devolvi com uma pergunta simples: Ele SEMPRE está ligado no 220 ou com alguém ele para e presta atenção? Ela me respondeu que com ela e com outra professora o aluno ficava quieto e conseguia prestar atenção e estudar. Então eu disse que provavelmente este diagnóstico não fosse de TDAH, mas apenas de alguém que precisa de mais atenção, de mais afeto.
Este é o ponto chave da maioria dos diagnosticados com o transtorno. Não que não exista o transtorno, mas em nome de um bem-estar para familiares e para a criança, opta-se pelo mais simples, pelo mais fácil. É muito mais fácil medicar e ter um filho que obedece, do que um filho pré-adolescente que precisa de mais carinho e afeto com apenas 7 anos.
Tenho saudade quando eu li o Livro "A droga da obediência" do Pedro Bandeira e era apenas uma ficção. Acho que este é mais um trabalho para os Karas. Fica a leitura de uma boa e divertida leitura para o fim de semana, e para os adolescentes que acessam o Blog. Não que a ritalina seja tudo aquilo, mas que é um pouqinho assim, isso não podemos negar.
2 comentários:
Nossa esse texto é muito bom , quando li fiquei mas tranquila, pois acredito piamente que o exagero do diagnóstico de TDAH estão silenciando as crianças da forma mais imediata e desonesta. Veio a calhar esse texto, pois estou em um projeto de pesquisa justamente sobre o tdah e posso te garantir a realidade em Londrina é alarme , quando tivemos acesso aos dados de prescrições de ritalina concerta e outros associados, tem crianças tomando verdadeiros coquiteis. E o encaminhamentos são feitos maior parte pelos os professores que não dão conta de lidar com a situação. Acredito realmente esse crianças querem apenas se expressar e afetos que elas não encontram, e ainda me lembro de uma frase forte do Psicanalista Paulo Schiller questionado sobre a existência do TDAH,segundo ele a psicanálise na olha por essa ótica puramente biologica, essas crianças possivelmete tem uuma relação "simbiótica com a mãe em pai ausente." Crianças carente de afeto e sem limites.
Muito importante esse discernimento e esclarecimento de tal patologia que mostra-se como epidemia principalmente após de ter sido lançada no DSM IV.
É uma questão a ser pesquisada e discutida pois abre brechas para pensarmos em muitos desdobramentos, um deles é o manejo de tais crianças que apresentam sintomas de hiperatividade em ambiente escolar e de que maneira os profissionais da educação podem olhar para elas pensando na intervenção.
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