O trabalho Psicanalítico: Respondendo a perguntas

sexta-feira, 4 de março de 2011 1 comentários
Respondendo a uma pergunta feita por um amigo:

Com o que de concreto trabalha a psicanálise?

Como ele não é muito afim de ler Lacan e compreende um pouco da base psicanalítica, respondi que era basicamente com 3 ferramentas principais (não que sejam as únicas): Relação entre analista e paciente; Discurso; Interpretação

1 º - Trabalha com a relação existente entre sujeito e analista. Será a partir desta relação que é possível o surgimento do diálogo, espera-se que seja o mais franco possível, espera-se que o diálogo seja uma espécie de monólogo onde os dois participem, os dois falem, mas o que quer que seja dito venha apeas de uma pessoa, o analisando.

2 º - Discurso. A Psicanálise trabalha utilizando-se da ferramenta, principalmente, do discurso daquele que fala. Lacan Dizia que quem fala, está falando com alguém, esta falando para um outro. É exatamente aqui que entra a interpretação que é suficientemente boa. Quando o analisando fala é para alguém que ele fala, mas este alguém nunca é o analista, é a ele mesmo que deve escutar-se. Então pra que interpretar se quem fala é quem ouve?

3 º - Quem fala é o analisando, mas fala do que lhe é inconsciente. É exatamente aqui que entra a interpretação. Através do discurso com o analista que coloca-se na posição de "morto" (sem desejos, sem vontades) permite-se que o analista como alguém que está "fora" pontuar o que escapou e não foi compreendido, ou escutado pelo cliente. Este que escapa, que foge, onde a palavra de certa forma não chega, quando interpretado (no momento oportuno) gera o religamento entre o discurso e a sensação do que foi dito. É neste meio, entre uma palavra e outra que pode reside o sujeito, aquele que fala o que o falante não quer, ou não pode, ouvir.

Estes 3 pontos são as chaves de uma análise que repetem-se seguidamente, e é desta forma que podemos fazer com que o incosciente torne-se consciente.

Aí veio a clássica afirmação:

- Mas Marco, então se eu ficar falando simplesmente deitado sem ninguém ali é a mesma coisa já que eu falo pra que eu mesmo ouça o que eu falo.

Respondi com cara de malandro que não era bem assim.

Na análise a gente fala repetidas vezes sem se dar conta do que estamos falando, falar sozinho é a mesma experiência de repetir uma fala e pronto. É necessário uma interpretação de um outro para que você perceba de outra forma aquilo que você mesmo fala. Através de uma metáfora por exemplo, na hora que é escutado o que diz o analista, aquela metáfora possibilita uma quebra, um corte com as defesas do "não escutar-se" (defesas inconscientes) e a partir daquilo fica mais facil de compreender o que se diz.

Claro que existem muito mais coisas, mas acho que no momento, por enquanto, respondi ao seu desejo de saber um pouco mais do fazer do psicanalista como algo real, uma função exercida por alguém que existe e que realmente faz algo de fato. Contrariamente ao que ele imaginava o que era a psicanálise (muito mais ligado a uma conversa filosófica) ele percebeu que a psicanálise é algo um tanto quanto mais interessante do que ele podia imaginar.

Em resumo, tivemos um ótimo bate papo.

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