Mais uma vez a ciência falhou.

sexta-feira, 11 de março de 2011 2 comentários
      Não queria ter que falar "eu disse" no último post sobre a ciência. Acredito que falei sobre o Tsunami que não veio após o terremoto. Aquele era um fato de um erro da ciência que custou apenas dinheiro. Agora o Tsunami veio, mas dessa vez sem aviso, custando, além do que foi gasto em dinheiro para o alerta que não foi emitido, muitas vidas e bilhões de dólares em estragos materiais.

       Aquela grande garantia que tínhamos após certo tempo e certa confiança no conhecimento científico, de que as coisas são possíveis se tivermos as ferramentas necessárias (leia-se dinheiro) começa a ruir. O sentimento de desamparo que uma população toda está hoje vivendo é mais ou menos o sentimento singular de cada ser humano quando este passa pela tragédia da angústia.

       Não há muito o que fazer, o que deveria ter sido feito (ao menos imaginariamente) não foi feito. O buraco, o estrago, o vazio está presente e nada pode mudar as consequências trágicas de sua percepção. As pessoas em estado de angústia até tomam alguns medicamentos, mas eles simplesmente servem como um pacebo, como uma bombinha para o asmático crônico. A sensação de não estar amparado pelo discurso científico que prega a sua segurança, diferente do asmático que sente que está seguro, o angustiado vive a outra face, exatamente o desamparo. Como se ninguém pudesse fazer absolutamente nada para ele melhorar.

       A ciência pós-moderna traz, ao menos no senso comum, uma sensação de que tudo é explicável, tudo é possível, de que o impossível é só questão de tempo, ou de ferramentas e não uma verdadeira característica do humano, uma marca, um registro além da fala.

       Pois bem, diga-me o sentido que tem as lágrimas se por acaso a ciência pode quantificar, pode qualificar que tipo de sentimento aquela pessoa está vivenciando. Não pode, é impossível para um outro tocar no íntimo de um sujeito além dele mesmo. 

       Assim como no Tsunami, o terremoto deixou também um rastro aterior de destruição, dor, morte, de sentimento de desamparo frente a uma vida construída em retalhos, em fragmentos. Estes fragmentos são as fotos, as casas, os prédios, a profissão, o estudo, a família. Mas além de tudo isso a vida é muito mais, ela é a possibilidade de continuidade, de mudança que a todo instante manifesta-se como um grito em nossos ouvidos.
       As pessoas em estado de angústia ouvem este grito 24h, estão sempre de prontidão, com o organismo todo pronto para responder à ameaça que faz-se diante de si mesmo, diante da sua vida. As pessoas atingidas por esta tragédia, assim como em outras tragédias também devem estar sentindo-se desamparadas, procurando aindo ouvir o grito que não foi dado, ou ainda, procurando culpar-se, ou desculpar-se pelo grito não ouvido até agora.

       Segundo a obra Freudiana a Angústia é um sentimento, uma manifestação psíquica frente a um estado (imaginário ou real) em que a consequência para a pessoa é a sua morte. Lacan vai mais fundo ainda dizendo que não é propriamente a morte, mas a sensação de desintegrar-se.

       Desintegrado está a vida de milhares de pessoas que vivem ou na angústia ou aquelas que passaram por mais esta tragédia. Tudo que estava um dia intergrado perdeu a "cola", passou a ser uma colcha de retalhos sem costuras, cacos de vidro no chão do que um dia já foi uma linda obra de arte feita de cristal.

       Meus sentimentos a todos que passam por estes momentos derradeiros, tanto da angústia quanto das tragédias. Meus sinceros sentimentos de uma outra oportunidade ainda melhor para todos vocês. O que a ciência não pode fazer, nem com máquinas ou remédios, que é retirar toda essa confusão, essa dor, esse desamparo, essa angústia, nós como pessoas podemos em nossa limitação acolher o sofrimento dizendo com sincera seriedade, calma, isso tudo vai passar.

       É hora de você se ajudar, se levantar e começar a costurar novamente, veja isso tudo como uma oportunidade de talvez criar uma nova obra de arte com as cores que você mais gosta, uma nova vida da forma que mais te faz feliz.

2 comentários:

  • Anonymous disse...

    Belo texto, Marco. Só um apontamento sobre o texto: é melhor tratar o que se chama de ciência, no senso comum, como "ciências", sem a ilusão de unidade; ou, melhor dizendo, que se trata de práticas científicas. Assim, afirmo, é legal trazer, também, a outra perspectiva, se não quiser ser mal interpretado, porque, numa leitura particularizada, poder-se-ia entender o seu texto como uma severa crítica à Ciência do ponto de vista de seus insucessos, o que seria mais ou menos dizer: "Tu não dás conta de nos guiar bem por aqui; afinal, por aqui tu não te aventuras. Em suma, tu não és bom em nos guiar". Veja que, se seu texto fosse assim interpretado, seria vista uma generalização talvez indevida, injustificada, por parte de seu texto, o que seria, por sua vez, injusto, visto que seu ponto de vista incide perfeitamente sobre esse ponto: a ciência não é (não se sabe se apenas por agora ou se eternamente) capaz de dar conta de experiências subjetivas tais como as do exemplo. "Certo, mas ela faz também muitas outras coisas que permitem uma série de vivências subjetivas e mesmo a produção de subjetividades tais que constituem a nossa sociedade baseada na informação e no conhecimento" -- assim diria um crítico, e acho que seria importante considerar, também, esse outro ponto de vista, se quiséssemos ser justos. Bom, enfim, ser cientista não significa ser desumano; muito pelo contrário. Acho que é isso que precisa, também, ser dito; embora não se diga, necessariamente, o contrário, é bom enfatizar essa afirmação para não ser mal interpretado.
    Depois dessa jornada quase que terapêutica, fico por aqui e desejo-lhe sucesso.

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