A ciência é colocada por muitas pessoas em um lugar de destaque, para alguns como a grande potência, como a grande salvadora do humano. Há até mesmo alguns adeptos (supostamente cientistas) que divulguem em suas idéias que não há ouro conhecimento ao não ser aquele que é o científico, ou seja, aquele conhecimento que é rigorosomente comprovado por uma metodologia e uma observação livres de qualquer tipo de subjetividade.
Segue logo abaixo um fragmento do artigo de Boaventura de Souza Santos: "Um discurso sobre as ciências na trasição para uma ciência pós-moderna"
"No seu célebre Discours sur les Sciences et les Arts (1750) Rousseau formula várias questões enquanto responde à que, também razoavelmente infantil, lhe fora posta pela Academia de Dijon1. Esta última questão rezava assim: o progresso das ciências e das artes contribuirá para purificar ou para corromper os nossos costumes? Trata-se de uma pergunta elementar, ao mesmo tempo profunda e fácil de entender. Para lhe dar resposta -do modo eloqüente que lhe mereceu o primeiro prêmio e algumas inimizades -Rousseau fez as seguintes perguntas não menos elementares: há alguma relação entre a ciência e a virtude? Há alguma razão de peso para substituirmos o conhecimento vulgar que temos da natureza e da vida e que partilhamos com os homens e mulheres de nossa sociedade pelo conhecimento científico produzido por poucos e inacessível à maioria? Contribuirá a ciência para diminuir o fosso crescente na nossa sociedade entre o que se é e o que se aparenta ser, o saber dizer e o saber fazer, entre a teoria e a prática? Perguntas simples a que Rousseau responde, de modo igualmente simples, com um redondo não."
Estou mais inclinado a pensar a ciência como um método do que como um fim. A ciência pode ser boa ou pode ser má? Não acredito que possamos dar a uma atitude humana (a atitude científica) uma face, uma qualidade que podemos encontrar apenas nos seres humanos.
Sim, apenas nos seres humanos porque nós podemos mesmo diante de um campo de concentração, destruídos pela fome, cansaço e sede, ainda sim sermos bons e partilhar um sorriso, um pedadaço de pão ou uma esperança, como afirmam os casos relatados por Frankl. Os animais não tem estas características, são antes de tudo instinto, como que calculando automaticamente as suas probabilidades e suas chances de matar ou morrer, eles irão atacar e comer ou deixar um outro comer.
A ciência é somente um caminho a mais para que o humano faça com ela o que pode fazer com o que ela lhe permite. Uma bomba atômica ou um Raio X para diagnosticar doenças. Uma câmara de gás ou um cilindro de Oxigênio para mergulhadores se divertirem. Quem manda na ciência é quem a utiliza. É em ultima instância um homem, soberano sobre ela e sobre o poder que ela lhe confere.
O conhecimento adquirido não científicamente não pode ser considerado não científico somente porque não fora adquirido em uma universidade. Isso me parece muito mais um positivismo mascarado (que a ciência julga ser contrária a este tipo de visão pois não deve ter visão alguma a priori, ao não ser o que é observavel sistematicamente) onde alguém que possui melhores ferramentas, ao menos alega que as possui, na sociedade contemporânea se diz uma pessoa melhor. Estudada como diziam antigamente.
Bobagem. É quase uma balela. Lembro-me muito bem de um Peão de idade que ensinava-me a ver se iria chover apenas olhando se as formigas estavam ou não trabalhando. Acho que ele nunca errou. Já a previsão do tempo erra a todo momento.
Os avisos e alertas de Tsunamis (hoje parece que teve outro) nunca foram capaz de prever um Tsunami real. O ultimo que teve passou desapercebido e matou muitas pessoas mesmo depois da tragédia no Haiti. Os moradores disseram que os animais estavam muito ativos, os pássaros todos sairam voando. E o alerta não veio.
A ciência é uma característica de uma época, de um período histórico. Assim como outras coisas humanas, as vezes falha. E é exatamente por que não da conta de tudo que não é eterna, mas ao contrário, é sempre desamparadora pois a cada novo humano que surge com pensamentos "científicamente corretos" surge uma nova perspectiva, surge uma nova ciência.
Basta vermos os medicamentos. Sempre correndo atrás das infecções. Não podemos criar um medicamento que seja específico para uma patologia específica que ainda não existe. Assim é a ciência. Em cada período histórico ela traz uma, ou até várias, respostas para um determinado problema. Este problema é sempre demasiado humano.
Por isso acho que a ciência tal qual se apresenta, seja pelo discurso ou pelo método é característica humana, é apenas uma ferramenta que utilizamos para explicarmos a nós mesmos aquilo que os animais (e até nós mesmos) já sabem por instinto, mas não pode ser aceito este conhecimento instintivo porque simplesmente não vem da razão, não vêm de uma oservação acadêmica e muitas vezes carece de método.
1 comentários:
É o Outro do Outro
(rs)
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