Humanização...

sexta-feira, 6 de maio de 2011 0 comentários
A única forma de humanizar o outro é ser humano e permitir o mesmo do outro. Não é todavia desejar que o o outro seja humano como você é ou deseja que ele seja, mas dar a possibilidade dele encontrar sua própria forma de existir, e com isso o sentido para sua vida.

Humanização fica atravessada pela falta de sentido, ou ainda, pelos in;umeros sentidos que a palavra humano pode agregar. Um sentido mais genérico deveria ser repensado para que pudessemos sempre trabalhar com a mesma perspectiva e também com uma busca de resultados mais satisfatórios. Eu gostaria de pegar primeiramente um conceito de Freud que fala que o ser humano deve ser capaz de amar e trabalhar.

Bom, amor e trabalho, as duas grandes (talvez maiores) fantasias que dão sentidos à vida do ser humano, que possibilitam a humanidade a se construir como tal. Mas qual tipo de amor e qual tipo de trabalho?

Ficamos novamente em um impasse.

Vamos pelo lado do amor que foi dividido em três pelos antigos gregos:

Ágape - amor de Deus pelos homens
Filos - amor entre irmãos, entre pessoas, um certo tipo de amor cristão, de cuidado, de carinho, de compaixão.
Eros - o amor em forma de pulsão, algo que pulsa e permite o desejo pelo outro na forma de tesão, na forma de uma busca pelo prazer através do outro.

Bom, mas mesmo com essas divisões podemos dizer que esses amores existem desde sempre, rodeando a vida das pessoas. Se cremos em Deus e no evangelho (sentido de Boa notícia anunciada por Cristo), cremos também que Deus ama indistintamente a todos. Ao pensarmos sobre a condição de amor Filos, podemos imaginar que sem o amor de um outro nos é impossível a existência. É sempre necessário alguém em nossas vidas para cumprir um papel de amante, e com isso nos mostrar o que de fato é amar. Ficamos aqui parados e atravancados no amor Eros, o amor erótico. Bom...

Não consigo imaginar uma vida em que a pessoa não tenha tesão pela vida. Depressão, está aí o sentido (muito resumido) da depressão, a falta de tesão pela vida, pelas coisas, pelos outros.

Bom, estes três tipos de amores são componentes do coração do homem, então podemos pensar que todos nós já somos humanos? Talvez sim, mas eu prefiro a negativa frente a esta pergunta. 

Humano não basta ser, estar ou sequer pertencer a um grupo distinto de "animais superiores" é necessário aderir ao que é esperado por esta criatura.O que é esperado justamente pela comunidade humana, pelo grupo humano, é que a criatura que deseje ser humana responda como mais um deste grupo.

Os problemas continuam aumentando e até aqui parece que não há uma forma de ser humano. Pensando que cada grupo, cada comunidade, cada família, tem sua própria forma de existir, de ter e dar sentido a vida, então o que é esperado por um ou outro grupo pode ser extremamente oposto e nem por isso a pessoa deixaria de ser humano.

É humano se qualquer grupo acolhe (ama) e passa suas fantasias para o outro na forma de desejo. Pois bem, esta passagem é feita através da linguagem, seja ela falada, escrita, ou gestual. Há em nossa sociedade brasileira um grupo de pessoas que estão dizendo que a linguagem natural dos surdos é a linguagem de sinais, se pensamos em que surdos seriam um subgrupo humano, este pensamento até agora vem a favor desta idéia, afinal o grupo de surdos acolhe o outro surdo o introduzindo na sua cultura, no seu grupo através da linguagem, isso o pode ser dado se houver desejo para que o membro entre no grupo (amor ao outro).

O amor então está intrinseco em todos os grupos, seja o amor próprio gerando grupos maiores para autopreservação, seja o amor aos integrantes do grupo especificamente para sobrevivência do grupo, ou seja o amor cristão que independe do outro, mas parte do princípio de ser amante frente ao outro por uma característica especial, ser filhos de um mesmo pai.

Humanizar seria então possibilitar ao infans (termo lacaniano que designa o neném que ainda não aprendeu a linguagem) a entrada em um grupo específico, o humano, através do amor. O que só pode ser feito se há algúem que ama primeiro.

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